O Salmo 51, um dos sete salmos penitenciais (6, 32, 38, 51, 102, 130, 143) – provavelmente o mais famoso deles –, é um exemplo ideal do que significa “mudança de atitude”. Seu escritor, o rei Davi, sofre uma grande transformação que merece ser observada com atenção.

A segunda implicação é a necessidade do perdão e da restauração. Vendo sua condição pecaminosa, o homem olha para seus atos de pecados e não os acha naturais, mas transgressões que ofendem o santo Deus. Por isso, busca o perdão divino e uma mudança que o faça, novamente, ter comunhão plena com o Senhor. A exemplo de Davi, ele roga (vv.1,2): “Apaga as minhas culpas, lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado”.
A terceira implicação é o sofrimento como consequência do pecado. Para o servo de Deus o pecado é fonte de dor por dois motivos. O primeiro é porque ele causa consequências que fazem sofrer (Tg 1.15). O segundo, porque o pecador perde seu contato próximo com o Senhor, o qual não suporta o pecado e não fica alheio a ele (Is 59.1,2). A tristeza pelo pecado era tanta que lhe parecia que seus ossos estavam esmigalhados. E pede pela restauração da alegria. O fato é que o pecado causa sofrimento a quem quer seguir a Deus.
A quarta é a certeza de restauração para quem se arrepende. Apesar de conhecer seu pecado (v.3), Davi sabia que, com o coração contrito, podia recorrer a Deus a fim de ser perdoado e restaurado. Ele conhecia o caráter transformador do Deus a quem servia. Assim, demonstra confiança em sua oração quando pede que Deus lhe execute uma mudança profunda (vv.10,12): “Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova no meu íntimo um espírito estável... Recobra em mim a alegria da tua salvação e mantém em mim um espírito enobrecido”. Com os benefícios das respostas da oração que dirige a Deus, o salmista não apenas é perdoado, mas volta à ativa como um servo útil na obra de Deus.
A última implicação é a possibilidade de adorar ao Deus perdoador. Ninguém deve buscar o pecado para, perdoado pelo Senhor, mostrar a todos a graça de Deus que supera a maldade do servo (Rm 6.1,2). Entretanto, o fato de sermos perdoados deve, sim, ser motivo tanto de louvor a Deus como de testemunho público do amor do Senhor pelos que lhe pertencem. É por isso que Davi, mesmo sabendo do seu pecado e da necessidade que tinha de perdão e restauração que só podiam vir de Deus, se antecipa e anuncia o que fará (v.13): “Eu ensinarei aos rebeldes os teus caminhos e os pecadores se voltarão para ti”. O efeito de tal anúncio parece encontrar seu par na vida dos israelitas de aí por diante (vv.18,19).
Apesar da antiguidade do salmo, sua atualidade e utilidade não podem ser, de modo algum, desprezadas. O pecado, tanto no mundo antigo como no moderno, quebra a comunhão do servo com seu Deus e causa sofrimento ao que peca e a quem é alvo do ato do pecado. Temos de, como igreja de Deus, recorrer sempre à promessa de perdão e de purificação por meio da obra redentora do Senhor Jesus Cristo (1Jo 1.9). Ninguém sabe tão bem o valor de tal promessa como aquele que quer ser fiel a Deus. De coração ele busca o perdão, já que (v.17) “sacrifícios a Deus são o espírito quebrantado; Deus não despreza um coração quebrantado e abatido”.
Texto extraído de Pr. Thomas Tronco